Tudo começa com uma luta

Dona Benedita estava inquieta. Não fora dormir no horário de costume. Tem 68 anos de vida e muito trabalho. Começou na enxada aos 7 anos de idade. Trabalhou 35 anos de doméstica em São Paulo e ainda não tem onde morar. Naquela noite arrumou a mochila e partiu para a ocupação de um prédio vazio.

Era 5 de outubro, dia de eleição. Ela e tantos outros destinos iguais. Deu tudo certo. Lá morou bom tempo. Comia melhor. Saiu do aluguel.
De repente, a reintegração de posse. O juiz sentenciou. Se não desocupar, o batalhão de choque virá armado até os dentes. E veio.

Mas o prédio estava fechado fazia 10 anos. Ninguém precisa dele. Abandonado da vida humana. O juiz disse que a propriedade era de alguém que ninguém nunca viu. E jogou 190 famílias no olho da rua. Mulheres, crianças, adolescentes, idosos, tudo como saco de lixo. Estas cenas do passado repetem-se diariamente e com a mesma violência jurídico-policial. Contribuiu o judiciário para agravar o desequilíbrio social. (…)

Trecho do texto: Reintegração de posse: a sentença de morte.

Autor: Manoel Del Rio